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quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

A MANJEDOURA E A ESTRELA


De: Florilégio Cristão

ESTRELA (arrogante) — Eu moro nas alturas consteladas e ando por entre as gázeas nebulosas, no éden, onde as estrelas são as fadas de longas cabeleiras luminosas. A via-látea é o tálamo argentino onde derramo toda a minha luz. — Iluminar o céu é o meu destino, pois para isso na amplidão me pus. Nem águias, que transpõem cordilheiras, atingirão jamais onde eu habito, porque, cheias de tédios e canseiras, jamais penetrarão pelo infinito. Estrela sou na etérea imensidade, a fúlgura janela de cristal por onde espia Deus, da eternidade, o mundo cheio de tristeza e mal. E tu, quem és, humilde Manjedoura, para que contes toda a tua glória? Hás de passar: eu sou imorredoura, pois não tem fim a minha trajetória.

MANJEDOURA (humilde) — Eu nada valho diante de uma Estrela, que enche o infinito todo de clarão, porém, não sendo eu fulgurante e bela, a minha glória não é sem razão — Vivo na terra, habito com a pobreza e nada sei da tua formosura; sou palha seca, seca e sem beleza, e só o pobre pária me procura. Os bois, que mugem ao cair do dia, buscam-me sempre com satisfação, porque o meu feno à fome que os crucia vai-lhes servir de abençoado pão... Não sou de Deus janela, como dizes ser entre os astros todos do infinito, mas os que vêm a mim são mui felizes e de alegria soltam o seu grito. Isso me satisfaz, é a minha glória, se não clareio o céu, que quero mais? Cheia de ilustrações é a minha história, mais bela que a dos mundos siderais.

ESTRELA — Não creio no que dizes, és falace e, arrependida, a fronte não inclinas... Que seria do mundo, se faltasse o brilho das Estrelas peregrinas?

MANJEDOURA — Embriaga-te o fascínio das alturas e muito grande tu desejas ser, mas, apesar de tudo, não procuras um caso extraordinário me dizer!

ESTRELA — Pois ouve lá: Há séculos passados, quando guerra no mundo não havia, de entre outros astros de clarões dourados, que transformam a noite escura em dia, fui escolhida, pelas mãos divinas, para desempenhar uma missão de procurar ao longo das campinas a do Messias pobre habitação. Tomei o meu diadema luminoso e, de lampejos novos me vestindo, tornei o espaço mais esplendoroso. E nesse dia o céu ficou mais lindo. E, cheia de fascínio, caminhando através do atapetado céu, parti, o berço do Messias procurando, do Cristo cuja face inda não vi. Errei pela amplidão da Palestina, como quem busca para si tesouros, como quem o seu nome não declina quando a vitória aos pés lhe atira os louros. Depois olhei no engaste azul celeste para escutar dos anjos as canções e embaixo vi Belém, de humilde veste, sorrindo para todas as nações... Jesus nascera, o Salvador do mundo, cuja choupana iluminei, radiante, Ele na terra, em seu fulgor profundo, eu a fulgir no páramo distante! Tiveste tu a glória sublimada de, sobre a casa onde Jesus nasceu, brilhar — opala grande e iluminada — como naquele dia brilhei eu?

MANJEDOURA — Somente tu, Estrela fulgurante, brilhaste sobre o teto do Messias, mas não estavas tu no céu distante, como ver ao menino poderias? Foste menos feliz do que eu, no entanto, porque não contemplaste o Salvador, teu orgulho dos cimos era tanto que nem pudeste ver o bom Senhor! Pois eu vestes não tive aparatosas, nem me enfeitei de contas de esmeraldas, nem o meu solo atapetei de rosas, nem ostentei coroas e grinaldas, para, naquele dia memorável, ouvir dos anjos as canções sem fim, porque, sendo eu humilde e miserável, o Salvador nasceu dentro de mim! Fui eu quem teve a dita sublimada de receber a criança no regaço, quando, naquela noite iluminada, brilhaste no zimbório azul do espaço; fui eu quem, ao abrir no infinito os olhos abrasados pela luz, sorriu na terra para o peito aflito, no primeiro sorriso de Jesus!

ESTRELA — Tu tens razão. .. Adeus! Onde cintilo, pairam as nuvenzinhas cor-de-rosa, e inda percebo ouvir no céu tranqüilo as melodias da harpa sonorosa. .. Adeus! Adeus! O espaço me convida e eu devo alar-me para os céus azuis; vou procurar em Cristo a eterna vida, pois vida eterna só há em Jesus!

MANJEDOURA (sozinha) — Nasceu Jesus! Hosanas nas alturas e paz na terra aos homens que Deus ama! Vibrem de gozo todas as criaturas, porque do céu perfume se derrama e a terra toda se enche de alegria para aclamar Jesus, o Sumo Bem, o Rei nascido numa estrebaria, na manjedoura humilde de Belém.

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