Deponho em tuas mãos,
Cristo de carne,
Cristo de carne e sangue,
deponho em tuas mãos meu desatino,
minha alucinação e meu delírio,
mas também
minha pugente aceitação de vida.
Perdoa se te sinto assim ferido,
malferido, e ainda deixo
na tua carne o fogo
de uma alma
consmida no escuro de si mesma
como na fria solidão de gruta.
Deponho em tuas mãos a minha vida,
as vidas que criei para que fosse desdobrado
esse permanecer a beira de um
penhasco, ouvindo embaixo
as crespas águas a chamar, um grito
de aleluia mescado ao desalento
de nem mesmo partir e nem ficar.
Deponho o que supus ser asa e sonho
e hoje amarga e remoi, sumo doente,
estranha essência de grãos espavorados
aos golpes de ilusória almofariz.
Quero-te em mim plantar como te insculpem carne
assim sangrante e viva, carne em chama,
carne de sangue e chama devarada
pela rude amargura de teus filhos,
cegos esgonços que farão doer
teus olhos de cordeiro,
alma de pai.
Deponho-me a mim mesmo em teu silêncio.
E tudo é um cântico de esvaída brisa,
suspiro luminoso de cristais.
Transcrito de "A SEARA"
Autor desconhecido
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